Nos dias 08, 09 e 10 de fevereiro participei da prova mais
dura, insana, dolorosa mas acima de tudo mais deliciosa prova da minha vida.
Em algum lugar na imensidão da Cordilheira dos Andes, a
Ultramaratona Cruce de Los Andes, ultramaratona de Montanhas que consiste em
aproximadamente 102 km em 3 dias de puro sofrimento, superação e inspiração á
vida.
Após correr 71km em Canela, achei que estava preparado para
ao menos sobreviver aos perrengues que encontraria nos Andes chilenos e
argentinos.
- Dia (29 km)
Ás 7:30 da manhã, eu e meus 2
parceiros Carlos e Toni pegamos o translado até os arredores do vulcão
Villarica na linda cidade de Pucón para em seguida darmos a largada do primeiro
dia de prova.
Como o ônibus parou á 2
quilômetros da largadas, caminhamos em uma subida íngreme, e mesmo antes de
começar a prova, já pude sentir a falta de ar. Imediatamente pensei se estaria
apto á realizar o grande desafio, mas ao pensar mais um pouquinho, desencanei
de vez, afinal eu sabia que estava lá com o intuito único e exclusivo de me
divertir acima de tudo, então caminhei até o pórtico de largada e não via a
hora de começar logo a brincadeira.
Dada a largada, logo de ínicio
pegamos muito trânsito durante os longos single tracks, o qual muitos atletas
caminhavam, dificultando a ultrapassagem e consequentemente um ritmo legal de
prova.
Durante os 8 primeiros
quilômetros o ritmo foi bem lento, mas á partir daí o pessoal começou á se
separar, mas para nosso azar o sol deu o ar da graça, e sem dó nem piedade,
resolveu esquentar cada vez mais, o que venho á dificultar cada vez mais,
principalmente pelo fato de carregarmos o tempo todo uma mochila nas costas,
contendo reservatório de água, comida, kit primeiros socorros, etc.
Talvez o fato de nunca ter
corrido com uma mochila, nem ao menos em treinos, tenha vindo á me desgastar
bastante, mas á partir do momento em que adentrava em florestas de beleza
inigualável, além de riachos que mais lembravam pinturas em quadros, a
fadiga foi por água abaixo e pude curtir cada
instante daquele desafio maravilhoso.
Após 03:50:53 fechei os 29 km,
literalmente torrando de calor, e quando entrei no microônibus para chegar até
o acampamento, apaguei por alguns instantes, mas o banho gelado no rio junto ao
acampamento foi o bastante para me reanimar e seguir rumo ao almoço.
Dia 2 (41 km)
Ao acordar ás 5:00 da manhã,
sentia dores em cada milímetro do meu corpo e o primeiro pensamento que venho
em minha mente foi “eu não vou agüentar” uma maratona cheia de pirambeira pela
frente.
Tomei meu café, e após o
translado larguei ao lado do meu amigo Carlos, me esforçando para evitar a cara
de sofrimento, mas para meu consolo, para todo mundo que olhava, o sentimento
era o mesmo.
Caminhamos por uma longa subida,
e após uns 15 minutos, as dores sumiram por um instante, assim sendo, resolvi
imprimir um ritmo legal, principalmente nas retas e descidas. Já nas subidas,
como não tinha bastões de caminhada (item essencial para este tipo de prova),
peguei 2 pedaços de bambu e consegui caminhar da maneira mais rápida possível
nas subidas, sempre com o coração quase saindo pela boca.
Corremos por muitas florestas até
chegarmos aos arredores do vulcão Quentrupillán, onde corríamos por uma
imensidão tão vasta que parecíamos pequeninos seres insignificantes naquele
local simplesmente inexplicável, tamanha a beleza cada vez mais inacreditável
do local.
Após pegarmos uma subida absurda,
no qual víamos no inicio alguns atletas lá no topo, mais parecendo
formiguinhas, devido á imensa altura do local, comecei á descer de forma consistente
e não acreditei ao ver um vale magnífico ao meu lado direito, parecido com um
fiorde neozelandês, e neste instante agradeci á Deus, por ser uma pessoa tão
abençoada, apenas pelo simples fato de ter a oportunidade de poder estar ali.
Sentimentos á parte, continuei
minha prova e por volta do km 27 entrei em uma linda floresta e conheci um
grande amigo argentino chamado Javier, que passou á ser meu parceiro de prova
até o fim.
No km 30, um simples descuido fez
com que Javier levasse um enorme tombo entre as pedras. Quando olhei para traz,
vi o Argentino estirado entre as pedras, e após ajudá-lo a levantar, vias de
sangue desciam por seus joelhos, ensangüentando suas canelas de forma
assustadora.
Aquele parecia ser o fim da
jornada para Javier, mas para meu espanto ele como se numa inexplicável
possessão, começou a gritar: Vamos Bruno, Vamos Bruno.
Naquele instante puder comprovar
que independente de qualquer rincha existente entre nossos hermanos, uma coisa
era certa: os caras tem uma raça assustadora.
Corremos em um ritmo firme um
puxando o outro até o km 38, quando Javier sentiu um pouco as dores causadas
pelos hematomas no joelho, mas com muita conversa e até certos instantes alguns
gritos de incentivo, consegui incentivar o Argentino até o final da etapa, o
qual fechamos em boas 05:38:53.
Cheguei completamente estragado
no final, e ao olhas para Javier via ele no mesmo estado, todo sujo e cheio de
sangue, e cheguei á conclusão, que conseguimos vencer mais uma guerra.
Com o tempo esfriando, cheguei no
acampamento dois e tomei um banho em uma corredeira hiper gelada, e após um
almoço de leão, entrei na barraca e dormi.
Dia 3 (28 km)
Mais uma vez acordei mal, devido
ao imenso desgaste dos dias anteriores e tembém pelo fato de dormir na barraca
de camping em um incorfortavel saco de dormir.
Desta vez, tinha plena convicção
que seria impossível, correr mais um dia, afinal, as dores eram incontáveis
pelo corpo todo.
Após o café, pegamos o ônibus até
a largada, e ao chegarmos no local por volta das 6:30 uma imensa fogueira
esquentava os atletas do frio intenso que se fazia presente.
Por volta das 06:50, larguei ao
lado de meu parceiro Carlos e de meu outro parceiro Elder, e começamos de forma
vagarosa, afinal as pernas estavam estragadas por completo.
Por incrível que pareça, após uns
15 minutos o corpo esquentou e começamos á correr melhor, onde mais uma vez,
encaramos algumas florestas recheadas de subidas íngremes.
Ao lado do Élder, imprimimos um
ritmo bacana, e começamos á passar alguns atletas, mas durante ás inúmeras
subidas nos distanciamos um pouco.
O clima começou á piorar, e
próximo ao vulcão Lanín, a temperatura baixou de vez, sendo que alguns atletas
disseram sentir sensação aproximada de 0 graus.
Como o frio estava apertando, e
sabia que este era o último dia, comecei á forçar o ritmo e fazer minha melhor
etapa entre as três, ultrapassando muitos atletas durante o percurso bastante
técnico, repleto de subidas, pedras e outros obstáculos.
Em seguida, entramos em uma
floresta com uns 6 km de descida, então pude correr forte e confesso que me
diverti pacas, afinal, não aquentava mais intermináveis subidas durante os 3
dias.
Por volta do km 26 chegamos á
divisa com a Argentina, e no meio da prova, retiramos nosso passaporte para
receberem o carimbo e em seguida entrarmos no país vizinho.
No momento em que entrei na
Argentina, tive uma surpresa, afinal ouvi um grito do meu nome, e quando olhei
para o lado, era o Javier, o Argentino maluco imprimindo um ritmo forte e
gritando o tempo todo para eu acompanhá-lo. Por alguns minutos consegui
acompanhar o cara, mas ele estava muito forte e fui ficando, e isso foi motivo
para levar uns 3 sermões do cara, mas no terceiro disse para ele que não
agüentava mais, e que o encontraria na chegada.
No final fechei o último dia em
03:19:11, feliz da vida, não só por completar a prova, como por fechar um dia tão
bem e como conseqüência fechar a prova em 12:48:57 na 70. colocação, dentre os
767 atletas que completaram a prova na categoria solo.
Recebi um abraço do Javier, e o
parabenizei pela sua raça fora do comum.
Agradeço á Deus pela experiência
MARAVILHOSA, que tive durante estes três dias, e parabenizo á todos os
guerreiros que participaram desta aventura inexplicável, principalmente os
amigos que fiz: Toni (Conservanti), Carlos, Amanda, Elder, Javier, Saulo,
Tramontina, Rosália, Fê, Erica, os kras do Bope e muitos outros que peço
desculpas por não lembrar o nome agora. Um abraço galera, e espero velos em uma
nova aventura em breve.
Agradeço principalmente minha
Mãe, minha Noiva Daiane, meus amigos e minha treinadora Cris Carvalho.
Em maio tem o Iron Man, mas com o
pensamento na Jungle Marathon na Floresta Amazônica em Outubro (será que dá?)
Façam o bem uns aos outros.
Bons treinos.
E aí Bruno !
ResponderExcluirMandei uma msg ontem... mas faltou uma parte: qto tempo você levou total na trip ? Tem ideia do custo ?
Abraço