O ano de 2014 finalmente começou nesta minha vida cheia de aventuras.
Infelizmente tive que esperar 3 meses, para começar minha maravilhosa e dolorosa diversão. 3 meses que considero um verdadeiro tempo mal aproveitado, afinal o que fiz neste período: Trabalhei, trabalhei e trabalhei.
A cada dia que passa, percebo as pessoas levando suas vidas inteiras trabalhando cada vez mais, sendo escravas de um mesmo objetivo, escondendo o verdadeiro sentido da vida, sendo subordinadas e limitadas á metas visíveis.
Sempre costumo dizer que o sentido da vida não é quantificável, afinal quando a pessoa se prende á números e bens materiais ela perde a razão de ser.
Em cada nova aventura em minha jornada, procuro algo fora do contexto, em busca de uma nova descoberta em minha vida.
Adoro garimpar estas novas descobertas e descobrir um novo caminho.
Quanto mais longínquo, mais puro, mais intocável, mais precioso ele será.
Para mim, o caminho deve ser árduo, deve me testar ao máximo, deve ser solitário, incerto, perigoso, quase inumano dadas as minhas perspectivas.
Na noite do dia 21 de Março de 2014, eu e minha esposa, nos hospedamos em uma pousada muito mais do que simples em Paranapiacaba. Fui recebido pela dona da pousada, uma senhora de 70 e poucos anos que se espantou ao saber que eu iria correr 52 km na mata na manhã seguinte, afinal chovia muito forte no local, um verdadeiro dilúvio, o que chegou a preocupar minha esposa também.
Por alguns minutos cheguei a me preocupar também, mas ao me acomodar no quarto simples de madeira no meio do mato, percebi que tudo iria dar certo.
Como não tinha treinado especificamente para o desafio que estava por vir, a probabilidade de insucesso era enorme, mas 5 minutos naquele quarto foram o bastante para perceber que tudo estava ao meu favor.
Quando parei para ouvir a chuva forte se chocando nas telhas, fui surpreendido pela agradável sinfonia dos sapos que coaxavam agradecendo a chuva, e para minha sorte, mais ao fundo á uns 15 metros da janela do quarto existia uma enorme cachoeira completando o som da belíssima orquestra enquanto suas águas despencavam sobre as rochas. Diante de todo este cenário, não pensava nas dificuldades do dia seguinte, mas sim, me sentia o dono do mundo, ou melhor dizendo, uma alma privilegiada por presenciar tamanha fonte de inspiração.
Na manhã seguinte, acordei tranquilo, e após me preparar, caminhei sozinho por uns 3 quilômetros pelas estradas na mata até o local da largada.
Ás 8 horas foi dada a largada, e como de costume saí tranquilo, enquanto que 90% dos atletas me passavam rapidamente, como se fossem participar de uma prova curta.
Como corri no mesmo local ano passado, eu conhecia as dificuldades que estavam por vir, e tinha consciência de que muito pagariam caro pelo erro inicial.
Já no km 6, uma subida muito ingrime, mostrou á todos quem dava as ordens, e como já era esperado, consegui ganhar algumas posições.
Por volta do km 20, após muitas subidas e descidas técnicas, já se viam atletas caminhando, pagando o alto preço do despreparo para um desafio desta proporção, afinal, a exigência física em uma prova em montanha é infinitamente maior do que uma prova de rua.
Já no km 30, estava bastante esgotado, principalmente pelo fato de encarar incontáveis subidas com a mochila nas costas, em meio á muita lama e pedra durante todo o percurso, mas o simples fato de não parar, e continuar, mesmo que vagarosamente, fez com que eu conquistasse várias posições.
No km 40 a falta de água, culpa de um mal planejamento de minha parte, fez com que eu perdesse 3 posições importantes, e a desidratação fez com que eu pagasse caro, ou seja, as caibras vieram, e vieram de todos os lados.
A partir deste instante, foi na base da dor, sofrimento e sobrevivência, mas quanto mais eu sofria com as dores, mais sentia o prazer de estar em um local único, dentro de uma mata carregada de energia positiva, em meio á inacreditável mãe natureza.
Não conseguia mais me alimentar, devido á fortes dores estomacais, correr também era um ato de bravura, pois o esgotamento físico era total, mas como desistir de um desafio, independente dos contratempos, enquanto muitos nem sequer podem andar ou até mesmo nunca sentiram esta inexplicável sensação durante toda á vida.
Como de costume, a Serra de Paranapiacaba se transformou de forma rápida e a neblina invadiu a mata rapidamente, acrescentando certa dose de suspense ao local. Posso dizer que sofria a cada novo passo em que minhas pernas davam, mas independente do estado moribundo em que me encontrava, me divertia cada vez mais com a situação.
Faltando uns 2 km para o final, a chuva forte voltou, coroando o desafio, fechando aquele dia inexplicável com chave de ouro, dando a minha alma mais uma experiencia unica e incalculável.
No final fechei os 52 km da prova em 05:54:40 conquistando a 14. posição geral entre 55 participantes e a 3. posição na categoria 30-39 entre 13 participantes.
Na segunda feira, enquanto caminhava mancando, conversei com um empresário, que me perguntou o que eu ganhei com a prova, afinal todo aquele esforço teria que valer á pena, mas quando disse que ganhei apenas um troféu, ele me esnobou de todas as formas dizendo que eu era um verdadeiro otário, por não ter ganho dinheiro algum após a prova.
Acredito que na percepção dele ele tenha razão, e evitei fazer comentários, afinal, ele dedicou sua vida toda ao trabalho e devido ao seu esforço acumulou muito dinheiro, inúmeras propriedades, muitos bens materiais e como consequência uma saúde precária, o que acredito que prejudique bastante o fato de agora tentar poder desfrutar de suas incalculáveis riquezas.
De qualquer forma agradeço todos os dias á Deus, por abençoar os 33 anos de vida deste otário aqui, que graças á seu trabalho árduo de todos os dias não se importa em querer levar uma vida cômoda ou acumular riquezas, mas leva para sempre em sua alma o fato de ter corrido maratonas na Argentina e no Chile, ter corrido uma Ultramaratona de 100km dentro da Cordilheira dos Andes, ter escalado os Alpes Franceses durante o Tour de France na França, ter caminhado por cidades medievais na Bélgica, ter feito rafting, bunguee jump, rapel em cavernas, e pulado de pára quedas na espetacular Nova Zelândia, ter caminhado em desertos e sítios arqueológicos além de nadar no mar morto na Jordânia, ter nadado no mar mediterrâneo além de conhecer uma cultura fora do comum na Grécia, ter corrido uma Ultramaratona na Africa do Sul além de conhecer a cultura deste país maravilhoso e mergulhar em uma gaiola ao lado de um tubarão branco de 4,5 metros.
Isto sem contar o fato de conhecer 13 estados por este Brasil, graças á minhas corridas que preencheram as paredes do meu quarto com 67 troféus e centenas de medalhas mas não me deram dinheiro algum.
Nunca terei palavras para agradecer por tudo isso, e principalmente pelas inúmeras amizades que fiz ao longo deste caminho maravilhoso, mas antes de agradecer por todas estas conquistas, peço á Deus que ilumine á vida de todos que veem minha vida de forma diferente da minha.
Obrigado á todos que me conhecem pelo apoio de sempre e contem comigo sempre.
Façam o bem uns aos outros.