LA MISION 2013
No último dia 12 de Outubro de 2013, tive a
oportunidade de me envolver em mais uma inesquecível experiência em minha vida.
Estava ansioso para
encarar os 80 quilômetros do primeiro La Mision, prova esta que acontecera na
inacreditável Serra Fina, em Passa Quatro no estado de Minas Gerais.
Meu espírito
aventureiro ainda estava absolutamente satisfeito com minhas jornadas, afinal,
há três semanas atrás tive a oportunidade de desfrutar minha Lua de Mel da
melhor maneira possível explorando a Grécia em 8 dias e depois a espetacular
Jordânia (literalmente de cabo a rabo) em mais 9 dias, totalizando 17 dias
inacreditáveis, conhecendo 2 culturas absolutamente distintas, porém
impressionantes.
Após isso, me
dediquei nas três próximas semanas ao La Mision, e quando comecei a subir a
Serra, na entrada da cidade de Passa Quatro, um dia antes da prova, pude
perceber que teria problemas. Curiosamente, pensei alto em quanto dirigia:
- Estou ferrado! –
minha mãe ao meu lado, concordou dizendo:
- Está mesmo.
Brincadeiras á
parte, cheguei no local já á tarde, peguei o meu kit da corrida e fui
descansar, mas como esperado, não dormi nada á noite, afinal a ansiedade
dominava todos os meus sentimentos.
Já no dia seguinte,
exatamente ás 11:00 horas da manhã, foi dada a largada, para os atletas da
prova de 40km e 80km.
No inicio da prova,
meu único inconveniente até então era a pesada mochila que carregava nas
costas, que parecia pesar uns 5 quilos, mais parecendo uma bigorna, afinal
estava levando suprimentos talvez para passar uns 2 ou 3 dias na mata.
Nos primeiros 12
quilômetros, tudo estava ótimo, pois corríamos no estradão de terra, local que
adoro, mas quando entramos na mata, iniciaram se os single tracks e as subidas
cada vez mais fortes, fizeram com que começássemos literalmente uma procissão.
Independente das
dificuldades, não sabia como agradecer á Deus, por ter a oportunidade de estar
em um lugar tão mágico e magnífico. A beleza local era tamanha, que subíamos
montanha acima por horas, sendo que em alguns locais, literalmente escalávamos
rochas, e continuávamos assim por horas, mas a fadiga e o cansaço não
incomodavam tanto.
A temível subida do
capim amarelo era dura e castigava bastante, pois subimos á 2800 metros acima
do nível do mar, e a incômoda dor de cabeça, fruto da falta de oxigênio
realmente deu as caras, mas o maior perrengue no topo da montanha foi a
ventania baixando a temperatura á geladíssimos 3 graus Celsius.
A cada instante,
olhávamos para qualquer lado, e éramos presenteados com paisagens simplesmente
magníficas, observando pequenas pessoas lá longe em várias montanhas, desafiando
seus limites, lutando bravamente contra suas barreiras em uma lenta e
desafiadora marcha rumo á chegada.
Por volta das 17:40
horas, e com apenas 24 quilômetros percorridos passamos por um pequeno riacho,
e pudemos abastecer nossas mochilas, afinal, todos nós que lá estávamos,
precisávamos de água. Erroneamente, molhei minhas mãos na água gelada do riacho
e comecei a passar mal, tremendo bastante, e sabia que tinha que me aquecer urgente,
pois á ultima coisa que queria naquele instante era ser vitima de uma
hipotermia, e ficar ali, largado no meio do nada, devido á não termos ajuda
naquele local inóspito.
Já agasalhado, e
com a lanterna na cabeça, começamos a jornada noturna, por entre colinas e
precipícios rumo á misteriosa e silenciosa escuridão.
Com 2 companheiros
de prova, o Renato e o Antônio, seguimos noite afora, caminhando pelas rochas e
pela mata, curtindo e batendo papo o tempo todo.
Por volta das 21:00
horas, chegamos em uma floresta bacana e conseguimos seguir trotando, pelo
local, pois já estava ficando insuportável andar por tanto tempo. Dois
quilômetros adiante, tivemos uma agradável e salvadora surpresa ao chegarmos ao
próximo posto de controle, afinal, fomos surpreendidos com uma sopa quente,
cortesia da organização que não estava nos planos, mas que por sua vez, caiu
como um banquete, devido á não aguentar mais tomar gel de carboidrato e comer
barra de proteína.
Uns dez minutos
depois, seguimos 14 km pelo estradão de terra trotando na medida do possível,
afinal, sempre éramos surpreendidos por longas subidas, que naquele instante
soavam para nossas pernas como montanhas do Himalaia.
Pela primeira vez
em minha vida, tive o prazer de poder correr em um estradão de terra, que adoro
tanto, desde meus tempos de mountaim bike, mas desta vez em plena escuridão,
salvo a luz de nossas lanternas, sendo observados por cavalos e inúmeras
aranhas que apareciam livremente pela estrada, além é claro dos animais que não
víamos.
Seguimos em frente
e nosso parceiro Renato estava bem, mas acabou perdendo a motivação e decidiu
desistir da prova. Antônio e eu continuávamos rumo ao próximo posto de
controle, em um ritmo lento, mas mesmo assim ainda conseguíamos passar alguns
atletas, afinal, estava difícil para todos.
Chegando ao posto
de controle, fomos informados que estávamos na posição 35. de 130 atletas, mas
ainda tínhamos 30 quilômetros pela frente, e a previsão era de fazermos esta
distância em no mínimo 7 horas.
Uma nova montanha
com mais 2300 metros estava entre esses 30 quilômetros, assim sendo, bati um
papo com um rapaz do posto de controle, e as palavras dele foram desanimadoras,
afinal ele disse que esta montanha estava muito mais difícil que a primeira,
que lá em cima estava fazendo os mesmos 3 graus, e que não teríamos mais
auxilio nenhum, inclusive abastecimento de água, ou seja, se algo der errado
daqui em diante, conte com o seu anjo da guarda e mais ninguém.
Nossos relógios já
maçavam 23:50, e não sei porque mas ao ouvir as palavras daquele cara, tudo de
ruim que podia acontecer venho á minha cabeça, cheguei á pensar que ao escalar
a montanha poderia escorregar e me esborrachar precipício abaixo, afinal, os
reflexos estaria menos apurados durante a madrugada, mas o que mais me
desmotivou, foi o fato de ter que provavelmente caminhar por mais 30
quilômetros, e isto acabou comigo, pois queria fazer o que mais gosto que é
correr, ou em outras palavras, perdi o tesão pela prova. Talvez a falta de
estudo e informações sobre o evento tenha sido também um fato decisivo.
Quando disse ao
pessoal que iria abandonar a prova, todos reprovaram a decisão afinal eu estava
muito bem, mas meu sexto sentido foi mais forte. Cinco atletas e três pessoas
do staff que lá estavam, tentaram á todo custo mudar minha decisão, e não
concordavam com a mesma, mas infelizmente, fui derrotado por meus pensamentos
negativos.
Esperei o Renato
chegar, e abandonamos a prova, caminhando madrugada afora rumo á cidade de
Passa Quatro.
Esta foi minha
primeira experiência neste tipo de prova e independente da não conclusão,
adorei tudo o que aconteceu, afinal me diverti á beça, aprendi muito mais sobre
minha vida do que qualquer livro que devorei durante meus 19 anos de estudos
sejam na escola, faculdade ou pós graduação. É claro que todos temos que
estudar bastante, mas com certeza aprendi muito mais sobre a vida nos 9 países
que já conheci e nas provas que faço por esse mundão afora, do que nas dezenas
de livros de engenharia que devorei durante anos, até porque estou aproveitando
a mesma ao máximo, e não estou pensando em guardar dinheiro e esperar a velhice
bater em minha porta pagar gasta-lo todo com remédios.
Em certos instantes
sinto algum arrependimento por minha decisão, afinal, sei que completaria a
prova, mas não estou aqui para escrever um monte de desculpas, e sei, ou pelo
menos imagino aonde ainda posso chegar.
Em relação aos
atletas que estavam comigo, já admirava os ultramaratonistas antes, agora,
virei um super fã. É impressionante a força de vontade e união desses caras que
levam seus corpos ao limite e possuem uma mente altamente poderosa.
Agradeço á Deus,
por mais esta oportunidade em minha vida, além de minha mãe que me acompanhou,
minha esposa por todo o apoio, e á todos os meus amigos pela ajuda e mensagens
de apoio.
UM ABRAÇO Á TODOS E
FAÇAM BEM UNS AOS OUTROS.