domingo, 20 de outubro de 2013

 
LA MISION 2013
 No último dia 12 de Outubro de 2013, tive a oportunidade de me envolver em mais uma inesquecível experiência em minha vida.
 
Estava ansioso para encarar os 80 quilômetros do primeiro La Mision, prova esta que acontecera na inacreditável Serra Fina, em Passa Quatro no estado de Minas Gerais.
Meu espírito aventureiro ainda estava absolutamente satisfeito com minhas jornadas, afinal, há três semanas atrás tive a oportunidade de desfrutar minha Lua de Mel da melhor maneira possível explorando a Grécia em 8 dias e depois a espetacular Jordânia (literalmente de cabo a rabo) em mais 9 dias, totalizando 17 dias inacreditáveis, conhecendo 2 culturas absolutamente distintas, porém impressionantes.
Após isso, me dediquei nas três próximas semanas ao La Mision, e quando comecei a subir a Serra, na entrada da cidade de Passa Quatro, um dia antes da prova, pude perceber que teria problemas. Curiosamente, pensei alto em quanto dirigia:
- Estou ferrado! – minha mãe ao meu lado, concordou dizendo:
- Está mesmo.
Brincadeiras á parte, cheguei no local já á tarde, peguei o meu kit da corrida e fui descansar, mas como esperado, não dormi nada á noite, afinal a ansiedade dominava todos os meus sentimentos.
Já no dia seguinte, exatamente ás 11:00 horas da manhã, foi dada a largada, para os atletas da prova de 40km e 80km.
No inicio da prova, meu único inconveniente até então era a pesada mochila que carregava nas costas, que parecia pesar uns 5 quilos, mais parecendo uma bigorna, afinal estava levando suprimentos talvez para passar uns 2 ou 3 dias na mata.
Nos primeiros 12 quilômetros, tudo estava ótimo, pois corríamos no estradão de terra, local que adoro, mas quando entramos na mata, iniciaram se os single tracks e as subidas cada vez mais fortes, fizeram com que começássemos literalmente uma procissão.
Independente das dificuldades, não sabia como agradecer á Deus, por ter a oportunidade de estar em um lugar tão mágico e magnífico. A beleza local era tamanha, que subíamos montanha acima por horas, sendo que em alguns locais, literalmente escalávamos rochas, e continuávamos assim por horas, mas a fadiga e o cansaço não incomodavam tanto.
A temível subida do capim amarelo era dura e castigava bastante, pois subimos á 2800 metros acima do nível do mar, e a incômoda dor de cabeça, fruto da falta de oxigênio realmente deu as caras, mas o maior perrengue no topo da montanha foi a ventania baixando a temperatura á geladíssimos 3 graus Celsius.
A cada instante, olhávamos para qualquer lado, e éramos presenteados com paisagens simplesmente magníficas, observando pequenas pessoas lá longe em várias montanhas, desafiando seus limites, lutando bravamente contra suas barreiras em uma lenta e desafiadora marcha rumo á chegada.
Por volta das 17:40 horas, e com apenas 24 quilômetros percorridos passamos por um pequeno riacho, e pudemos abastecer nossas mochilas, afinal, todos nós que lá estávamos, precisávamos de água. Erroneamente, molhei minhas mãos na água gelada do riacho e comecei a passar mal, tremendo bastante, e sabia que tinha que me aquecer urgente, pois á ultima coisa que queria naquele instante era ser vitima de uma hipotermia, e ficar ali, largado no meio do nada, devido á não termos ajuda naquele local inóspito.
Já agasalhado, e com a lanterna na cabeça, começamos a jornada noturna, por entre colinas e precipícios rumo á misteriosa e silenciosa escuridão.
Com 2 companheiros de prova, o Renato e o Antônio, seguimos noite afora, caminhando pelas rochas e pela mata, curtindo e batendo papo o tempo todo.
Por volta das 21:00 horas, chegamos em uma floresta bacana e conseguimos seguir trotando, pelo local, pois já estava ficando insuportável andar por tanto tempo. Dois quilômetros adiante, tivemos uma agradável e salvadora surpresa ao chegarmos ao próximo posto de controle, afinal, fomos surpreendidos com uma sopa quente, cortesia da organização que não estava nos planos, mas que por sua vez, caiu como um banquete, devido á não aguentar mais tomar gel de carboidrato e comer barra de proteína.
Uns dez minutos depois, seguimos 14 km pelo estradão de terra trotando na medida do possível, afinal, sempre éramos surpreendidos por longas subidas, que naquele instante soavam para nossas pernas como montanhas do Himalaia.
Pela primeira vez em minha vida, tive o prazer de poder correr em um estradão de terra, que adoro tanto, desde meus tempos de mountaim bike, mas desta vez em plena escuridão, salvo a luz de nossas lanternas, sendo observados por cavalos e inúmeras aranhas que apareciam livremente pela estrada, além é claro dos animais que não víamos.
Seguimos em frente e nosso parceiro Renato estava bem, mas acabou perdendo a motivação e decidiu desistir da prova. Antônio e eu continuávamos rumo ao próximo posto de controle, em um ritmo lento, mas mesmo assim ainda conseguíamos passar alguns atletas, afinal, estava difícil para todos.
Chegando ao posto de controle, fomos informados que estávamos na posição 35. de 130 atletas, mas ainda tínhamos 30 quilômetros pela frente, e a previsão era de fazermos esta distância em no mínimo 7 horas.
Uma nova montanha com mais 2300 metros estava entre esses 30 quilômetros, assim sendo, bati um papo com um rapaz do posto de controle, e as palavras dele foram desanimadoras, afinal ele disse que esta montanha estava muito mais difícil que a primeira, que lá em cima estava fazendo os mesmos 3 graus, e que não teríamos mais auxilio nenhum, inclusive abastecimento de água, ou seja, se algo der errado daqui em diante, conte com o seu anjo da guarda e mais ninguém.
Nossos relógios já maçavam 23:50, e não sei porque mas ao ouvir as palavras daquele cara, tudo de ruim que podia acontecer venho á minha cabeça, cheguei á pensar que ao escalar a montanha poderia escorregar e me esborrachar precipício abaixo, afinal, os reflexos estaria menos apurados durante a madrugada, mas o que mais me desmotivou, foi o fato de ter que provavelmente caminhar por mais 30 quilômetros, e isto acabou comigo, pois queria fazer o que mais gosto que é correr, ou em outras palavras, perdi o tesão pela prova. Talvez a falta de estudo e informações sobre o evento tenha sido também um fato decisivo.
Quando disse ao pessoal que iria abandonar a prova, todos reprovaram a decisão afinal eu estava muito bem, mas meu sexto sentido foi mais forte. Cinco atletas e três pessoas do staff que lá estavam, tentaram á todo custo mudar minha decisão, e não concordavam com a mesma, mas infelizmente, fui derrotado por meus pensamentos negativos.
Esperei o Renato chegar, e abandonamos a prova, caminhando madrugada afora rumo á cidade de Passa Quatro.
Esta foi minha primeira experiência neste tipo de prova e independente da não conclusão, adorei tudo o que aconteceu, afinal me diverti á beça, aprendi muito mais sobre minha vida do que qualquer livro que devorei durante meus 19 anos de estudos sejam na escola, faculdade ou pós graduação. É claro que todos temos que estudar bastante, mas com certeza aprendi muito mais sobre a vida nos 9 países que já conheci e nas provas que faço por esse mundão afora, do que nas dezenas de livros de engenharia que devorei durante anos, até porque estou aproveitando a mesma ao máximo, e não estou pensando em guardar dinheiro e esperar a velhice bater em minha porta pagar gasta-lo todo com remédios.
Em certos instantes sinto algum arrependimento por minha decisão, afinal, sei que completaria a prova, mas não estou aqui para escrever um monte de desculpas, e sei, ou pelo menos imagino aonde ainda posso chegar.
Em relação aos atletas que estavam comigo, já admirava os ultramaratonistas antes, agora, virei um super fã. É impressionante a força de vontade e união desses caras que levam seus corpos ao limite e possuem uma mente altamente poderosa.
Agradeço á Deus, por mais esta oportunidade em minha vida, além de minha mãe que me acompanhou, minha esposa por todo o apoio, e á todos os meus amigos pela ajuda e mensagens de apoio.
UM ABRAÇO Á TODOS E FAÇAM BEM UNS AOS OUTROS.