quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

EL CRUCE COLUMBIA 2013

Nos dias 08, 09 e 10 de fevereiro participei da prova mais dura, insana, dolorosa mas acima de tudo mais deliciosa prova da minha vida.
Em algum lugar na imensidão da Cordilheira dos Andes, a Ultramaratona Cruce de Los Andes, ultramaratona de Montanhas que consiste em aproximadamente 102 km em 3 dias de puro sofrimento, superação e inspiração á vida.
Após correr 71km em Canela, achei que estava preparado para ao menos sobreviver aos perrengues que encontraria nos Andes chilenos e argentinos.
  1. Dia (29 km)
Ás 7:30 da manhã, eu e meus 2 parceiros Carlos e Toni pegamos o translado até os arredores do vulcão Villarica na linda cidade de Pucón para em seguida darmos a largada do primeiro dia de prova.
Como o ônibus parou á 2 quilômetros da largadas, caminhamos em uma subida íngreme, e mesmo antes de começar a prova, já pude sentir a falta de ar. Imediatamente pensei se estaria apto á realizar o grande desafio, mas ao pensar mais um pouquinho, desencanei de vez, afinal eu sabia que estava lá com o intuito único e exclusivo de me divertir acima de tudo, então caminhei até o pórtico de largada e não via a hora de começar logo a brincadeira.
Dada a largada, logo de ínicio pegamos muito trânsito durante os longos single tracks, o qual muitos atletas caminhavam, dificultando a ultrapassagem e consequentemente um ritmo legal de prova.
Durante os 8 primeiros quilômetros o ritmo foi bem lento, mas á partir daí o pessoal começou á se separar, mas para nosso azar o sol deu o ar da graça, e sem dó nem piedade, resolveu esquentar cada vez mais, o que venho á dificultar cada vez mais, principalmente pelo fato de carregarmos o tempo todo uma mochila nas costas, contendo reservatório de água, comida, kit primeiros socorros, etc.
Talvez o fato de nunca ter corrido com uma mochila, nem ao menos em treinos, tenha vindo á me desgastar bastante, mas á partir do momento em que adentrava em florestas de beleza inigualável, além de riachos que mais lembravam pinturas em quadros, a fadiga   foi por água abaixo e pude curtir cada instante daquele desafio maravilhoso.
Após 03:50:53 fechei os 29 km, literalmente torrando de calor, e quando entrei no microônibus para chegar até o acampamento, apaguei por alguns instantes, mas o banho gelado no rio junto ao acampamento foi o bastante para me reanimar e seguir rumo ao almoço.
 
 
Dia 2 (41 km)
Ao acordar ás 5:00 da manhã, sentia dores em cada milímetro do meu corpo e o primeiro pensamento que venho em minha mente foi “eu não vou agüentar” uma maratona cheia de pirambeira pela frente.
Tomei meu café, e após o translado larguei ao lado do meu amigo Carlos, me esforçando para evitar a cara de sofrimento, mas para meu consolo, para todo mundo que olhava, o sentimento era o mesmo.
Caminhamos por uma longa subida, e após uns 15 minutos, as dores sumiram por um instante, assim sendo, resolvi imprimir um ritmo legal, principalmente nas retas e descidas. Já nas subidas, como não tinha bastões de caminhada (item essencial para este tipo de prova), peguei 2 pedaços de bambu e consegui caminhar da maneira mais rápida possível nas subidas, sempre com o coração quase saindo pela boca.
Corremos por muitas florestas até chegarmos aos arredores do vulcão Quentrupillán, onde corríamos por uma imensidão tão vasta que parecíamos pequeninos seres insignificantes naquele local simplesmente inexplicável, tamanha a beleza cada vez mais inacreditável do local.
Após pegarmos uma subida absurda, no qual víamos no inicio alguns atletas lá no topo, mais parecendo formiguinhas, devido á imensa altura do local, comecei á descer de forma consistente e não acreditei ao ver um vale magnífico ao meu lado direito, parecido com um fiorde neozelandês, e neste instante agradeci á Deus, por ser uma pessoa tão abençoada, apenas pelo simples fato de ter a oportunidade de poder estar ali.
Sentimentos á parte, continuei minha prova e por volta do km 27 entrei em uma linda floresta e conheci um grande amigo argentino chamado Javier, que passou á ser meu parceiro de prova até o fim.
No km 30, um simples descuido fez com que Javier levasse um enorme tombo entre as pedras. Quando olhei para traz, vi o Argentino estirado entre as pedras, e após ajudá-lo a levantar, vias de sangue desciam por seus joelhos, ensangüentando suas canelas de forma assustadora.
Aquele parecia ser o fim da jornada para Javier, mas para meu espanto ele como se numa inexplicável possessão, começou a gritar: Vamos Bruno, Vamos Bruno.
Naquele instante puder comprovar que independente de qualquer rincha existente entre nossos hermanos, uma coisa era certa: os caras tem uma raça assustadora.
Corremos em um ritmo firme um puxando o outro até o km 38, quando Javier sentiu um pouco as dores causadas pelos hematomas no joelho, mas com muita conversa e até certos instantes alguns gritos de incentivo, consegui incentivar o Argentino até o final da etapa, o qual fechamos em boas 05:38:53.
Cheguei completamente estragado no final, e ao olhas para Javier via ele no mesmo estado, todo sujo e cheio de sangue, e cheguei á conclusão, que conseguimos vencer mais uma guerra.
Com o tempo esfriando, cheguei no acampamento dois e tomei um banho em uma corredeira hiper gelada, e após um almoço de leão, entrei na barraca e dormi.
 
Dia 3 (28 km)
Mais uma vez acordei mal, devido ao imenso desgaste dos dias anteriores e tembém pelo fato de dormir na barraca de camping em um incorfortavel saco de dormir.
Desta vez, tinha plena convicção que seria impossível, correr mais um dia, afinal, as dores eram incontáveis pelo corpo todo.
Após o café, pegamos o ônibus até a largada, e ao chegarmos no local por volta das 6:30 uma imensa fogueira esquentava os atletas do frio intenso que se fazia presente.
Por volta das 06:50, larguei ao lado de meu parceiro Carlos e de meu outro parceiro Elder, e começamos de forma vagarosa, afinal as pernas estavam estragadas por completo.
Por incrível que pareça, após uns 15 minutos o corpo esquentou e começamos á correr melhor, onde mais uma vez, encaramos algumas florestas recheadas de subidas íngremes.
Ao lado do Élder, imprimimos um ritmo bacana, e começamos á passar alguns atletas, mas durante ás inúmeras subidas nos distanciamos um pouco.
O clima começou á piorar, e próximo ao vulcão Lanín, a temperatura baixou de vez, sendo que alguns atletas disseram sentir sensação aproximada de 0 graus.
Como o frio estava apertando, e sabia que este era o último dia, comecei á forçar o ritmo e fazer minha melhor etapa entre as três, ultrapassando muitos atletas durante o percurso bastante técnico, repleto de subidas, pedras e outros obstáculos.
Em seguida, entramos em uma floresta com uns 6 km de descida, então pude correr forte e confesso que me diverti pacas, afinal, não aquentava mais intermináveis subidas durante os 3 dias.
Por volta do km 26 chegamos á divisa com a Argentina, e no meio da prova, retiramos nosso passaporte para receberem o carimbo e em seguida entrarmos no país vizinho.
No momento em que entrei na Argentina, tive uma surpresa, afinal ouvi um grito do meu nome, e quando olhei para o lado, era o Javier, o Argentino maluco imprimindo um ritmo forte e gritando o tempo todo para eu acompanhá-lo. Por alguns minutos consegui acompanhar o cara, mas ele estava muito forte e fui ficando, e isso foi motivo para levar uns 3 sermões do cara, mas no terceiro disse para ele que não agüentava mais, e que o encontraria na chegada.
No final fechei o último dia em 03:19:11, feliz da vida, não só por completar a prova, como por fechar um dia tão bem e como conseqüência fechar a prova em 12:48:57 na 70. colocação, dentre os 767 atletas que completaram a prova na categoria solo.
Recebi um abraço do Javier, e o parabenizei pela sua raça fora do comum.
Agradeço á Deus pela experiência MARAVILHOSA, que tive durante estes três dias, e parabenizo á todos os guerreiros que participaram desta aventura inexplicável, principalmente os amigos que fiz: Toni (Conservanti), Carlos, Amanda, Elder, Javier, Saulo, Tramontina, Rosália, Fê, Erica, os kras do Bope e muitos outros que peço desculpas por não lembrar o nome agora. Um abraço galera, e espero velos em uma nova aventura em breve.
Agradeço principalmente minha Mãe, minha Noiva Daiane, meus amigos e minha treinadora Cris Carvalho.
Em maio tem o Iron Man, mas com o pensamento na Jungle Marathon na Floresta Amazônica em Outubro (será que dá?)
Façam o bem uns aos outros.
Bons treinos.