IRON MAN COZUMEL - MÉXICO 2014
No dia 30 de Novembro de 2014, participei do meu terceiro Iron Man, mas desta vez, em um local "Mágico de Verdade", afinal, estava nadando em águas caribenhas.
Diferente das outras duas vezes, o qual me sentia em plena forma, e esperava bons resultados antes da largada, desta vez, não estava muito bem preparado, e já esperava um resultado mediano.
Como estava trabalhando bastante não só no meu emprego, como em projetos paralelos, além de estar com a cabeça totalmente focada em mudança para um novo apartamento, não contei com o tempo adequado para me preparar para uma prova desta grandeza, além de já ter cumprido a grande meta do ano que era o La Mision...mas acredito que o meu maior erro foi o fato de nem sequer ter feito um único treino com a bike contra-relógio, ou seja, usei-a no Iron Man Brasil 2013 e um ano e meio depois montei na mesma somente em Cozumel para a largada da prova.
Não me sinto culpado pelo fato, afinal esta decisão foi devido ao medo de assalto nos treinos, assim sendo, fiz todos os treinos de sábado com a minha Speed velha de guerra.
Por mais que sabia que estava mal preparado, antes da largada, não senti aquela tensão absurda, como nas 02 vezes anteriores.
Dada a largada, já fiquei maravilhado ao ver cartazes com mensagens deixadas pela organização no fundo do mar, tamanha era a transparência do mar caribenho.
Devido á temperatura da água, o uso da wet suit estava proibido, fato este que deixou a natação mais lenta, e diferentemente do Iron Man Brasil, o percurso da natação foi 3800 metros em uma perna só, ou seja, direto sem descanso.
Por mais que estivesse mandando uma natação meia boca, era impossível, se sentir cansado, nadando em meio a vários cardumes de peixes azuis e amarelos, podendo observa-los, como se fosse em uma tela com resolução HD.
Após a "diversão" na água, fechei a natação em 01:08:19 e saí para a transição ciente que meu sofrimento estava prestes a começar.
Ao pegar a bike, me posicionei no clip e apenas 10 minutos forma necessários para a dor nas costas vir com tudo.
Em todos os 180 quilômetros do ciclismo, fiquei oscilando entre pedalar no clip e segurar no guidão. Como já era de se esperar, a grande parte do circuito da bike costeia o mar em um sentido com o vento contra.
Nem preciso dizer que comi o pão que o diabo amassou, afinal quando chegava á beira mar, ficava impressionado com praias desertas lindas, mas sofria demais pela falta de treinos e principalmente pela falta de costume na bike.
Em certos instantes, me consolava um pouco ao ver que outros atletas também sofriam um bocado, mas o mais impressionante eram os americanos (50% dos inscritos eram americanos), afinal eles pedalavam como se estivessem se divertindo, ai se existisse exame anti dopping entre os atletas amadores.
Outro fato, injusto foi o vácuo que alguns atletas pegavam atrás de outros atletas, fato este que tive a oportunidade de presenciar, mas consegui resolver com o único recurso que me apareceu no momento.
Um atleta espanhol, vinha se beneficiando do vácuo de alguns atletas e não era punido de forma alguma....quando consegui passá-lo gesticulei com a mão e falei algumas palavras que nem me lembro quais foram agora, mas o pilantra continuou todo pimpão na roda do pessoal. Quando ele ficou na minha roda, deixei ele á vontade....como estava um pouco gripado, esperei o momento certo, dei uma forçada no giro, joguei a bike de lado e em seguida mandei o famoso "sopro do fazendeiro", e tenho certeza absoluta que acertei o cara em cheio. Só sei que estava por volta do km 125 e nunca mais o vi.
Continuei sofrendo contra o vento, mas sem dúvida, curti bastante, afinal em certos instantes soltava gargalhadas comigo mesmo.
Sofri demais no pedal, e fechei os 180 km em 05:58:48, tempo absurdamente alto se comparado com minhas provas anteriores, mas nas anteriores não tive a oportunidade de acertar nenhum gatuno com tamanha maestria.
Brincadeiras á parte, deixei a bike na transição, e ao colocar o tênis, e começar a correr, minha coluna estava totalmente estraçalhada, e as pernas então, nem se fala, ou seja, a falta de treinos com a bike me destruiu completamente.
Saí para correr os 42 quilômetros muito mal, e coloquei como meta chegar nos primeiros 05 quilômetros e andar um pouco, afinal na situação que me encontrava, estava totalmente fora de questão seguir em frente sem parar um pouco.
Chegando no quinto quilômetro, meu corpo estava mal, mas a mente fortalecia aos poucos, então apostei comigo mesmo se seria capaz de chegar até o décimo quilômetro direto, sem andar, e nesse jogo mental, consegui atingir minha meta, e isto aconteceu novamente nos próximos cinco quilômetros.
Quando cheguei na metade da corrida, ou seja, nos 21 quilômetros, estava muito fraco, e com dores pra tudo quanto é lado, mas aquela inexplicável sensação de prazer pela dor começou a tomar conta, e comecei a pensar comigo mesmo que seria uma injustiça total se em algum momento daqueles 42 quilômetros de corrida em parasse para caminhar, afinal não era tolerável Deus me dar duas pernas perfeitas enquanto que algumas pessoas infelizmente nem podem desfrutar disto, eu parar para andar, assim sendo, fui meditando durante toda a corrida, e consegui fechar a maratona em 03:59:15, sem andar durante toda a prova.
No final, fechei o Iron Man Cozumel em 11:17:13, conquistando a 157 colocação dentre 1300 atletas do mundo todo.
Dadas as circunstâncias, fiquei feliz da vida, pois esperava não menos que 12 horas de prova.
Como de costume, enquanto muitas pessoas vão direto para a maca, tomar soro na veia após a prova, eu sentei em uma cadeira e um garotinho mexicano beirando os 14 anos se ofereceu para pegar uma bandeja, com comida e rapidamente pedi ao mesmo que colocasse tudo o que tinha para comer, até pedra seria bem vinda.
Com uma bandeja, linda nas mãos, peguei um pedaço de pizza enorme, e coloquei quase metade dentro da boca, mas quando dei a primeira mastigada, aquela pimenta mexicana fortíssima, acabou com minhas expectativas.
Eu sabia que aquilo não desceria em meu estomago de maneira alguma, mas quando olhei para aquele garotinho mexicano, que se esforçou para me ajudar, com a melhor das intenções possíveis, me olhava de forma tão inocente, engoli aos poucos á pizza, com o intuito de não decepciona-lo. Aquilo desceu como uma bomba Napalm em meu estômago. Tentei fazer uma cara de bons amigos, me levantei da cadeira, cumprimentei aquele garotinho que estava lá para ajudar á todos, com um Mutchas gracias amigo, e fui embora. Que Deus ilumine á vida deste ninho.
Após a prova, pude curtir com minha esposa, 07 dias neste país fantástico, com uma cultura riquíssima e pessoas simples, porém de caráter imenso.
Agradeço á Deus e á todos que torcem por mim mais uma vez.
Nunca desistam dos seus sonhos e vivam a vida a todo instante, afinal ela passa muito depressa.
Façam o bem uns aos outros.