terça-feira, 5 de julho de 2016

ÁLBUM DE FOTOS - ATACAMA CROSSING 2015

LARGADA DA PROVA
UM SER VIVO SOLITÁRIO NO DESERTO
SUBIDAS SEM FIM
AREIA FOFA

SOZINHO NO DESERTO
DESCENDO AS DUNAS

MAIS DUNAS

PAULO - BRUNO - DAVE
UMA LAGOA NO DESERTO

LANTERNA PODEROSA
CÂNION
AMIGOS





40 GRAUS

42 GRAUS


VULCÃO LASCAR

ÁGUA DE DEGELO


FABRICANDO BOLHAS NOS PÉS

SEGUINDO A TRILHA

CONCENTRAÇÃO

NOITE FRIA


CARREGANDO UM TREM NAS COSTAS

NA PERSEGUIÇÃO

ACAMPAMENTO

CÂNION

LABIRINTO

CREPÚSCULO

CROSTAS DE SAL

SOLIDÃO

FINALIZANDO MAIS UM DIA

RECOMPENSA

MINUTOS APÓS A LARGADA

VULCÃO

44 GRAUS

SEM ÁGUA

TEMPESTADE DE VENTO

IMENSIDÃO

VALE DA LUA

ESQUENTANDO


CREPÚSCULO

PARQUE DE DIVERSÕES

MANTENDO O RITMO

BOLHAS NOS PÉS CADA VEZ MAIORES

SEGUINDO A TRILHA

DUNAS GIGANTES

MEDITAÇÃO

EXPERIÊNCIA ÚNICA


segunda-feira, 20 de junho de 2016

ATACAMA CROSSING 250 KM

ATACAMA CROSSING 2015
Desde minha infância, sempre fui fascinado em explorar lugares exóticos e inóspitos, mas foi através do esporte que tive a oportunidade de conhecer locais até então por mim inimagináveis, afinal em 10 anos de corridas, distribuídas em maratonas, ultramaratonas, iron man, travessias aquáticas e extenuantes provas de ciclismo, tive a oportunidade de conhecer  9 países, além de metade dos estados do nosso país, mas confesso que nada foi tão desafiador, sofrido e principalmente emocionante como a ultramaratona Atacama Crossing.
Nesta prova, o atleta precisa completar 250 km em estágios, durante 7 dias no deserto, sem receber apoio algum da organização, exceto atendimento médico e 2 litros de água a cada 10 km, além de uma tenda no final do dia para ser compartilhada entre 10 atletas.
1° Estágio – Dia 4 de Outubro – 38 km
Largamos no primeiro dia em 3.500 metros de altitude e enfrentamos algumas subidas com muitas pedras soltas logo no início. Como carregava todos os suprimentos e equipamentos para sobreviver no impiedoso deserto por 7 dias, minha mochila pesava 13 quilos e todo este peso nas costas, mais a falta de ar devido ao Atacama ser o deserto mais seco do mundo, além é claro do calor que aumentava bastante, resolvi iniciar a prova da forma mais cautelosa possível, sendo que somente após o km 18, quando entramos em um estreito porém extenso cânion, pude trotar um pouco para terminar o dia o menos cansado possível.
2° Estágio – Dia 5 de Outubro – 44 km
Neste dia largamos descendo várias montanhas até chegarmos em um riacho com água de degelo das montanhas.
Por aproximadamente 06 km fomos serpenteando em uma trilha pelo riacho, e molhávamos os pés á todo instante, o que futuramente me causaria alguns problemas.
Após o riacho, cheguei a pensar em trocar as meias para evitar bolhas, mas devido á congelante temperatura da água, não sentia mais meus dedos, então achei melhor seguir em frente o mais rápido possível, com o intuito de manter a circulação sanguínea regularmente e continuar com o movimento de meus dedos.
Em seguida, subimos uma montanha com 1.100 metros o que levou algumas horas de uma mista sensação de esgotamento e admiração ao local.
Com o termômetro marcando 44°, mas com sensação térmica muito maior, terminamos  a extenuante subida, e começamos á descer enormes dunas, e independente de estar usando polainas sobre os tênis, muita areia entrou nos mesmos, o que resultou na primeira bolha formada  em meu pé direito, fato este que incomodou bastante até o final da etapa.
3° Estágio – Dia 6 de Outubro – 38 km
No terceiro dia, passamos por um trecho com muitas subidas em rochas e pedras pontiagudas, providas de erupções vulcânicas, sendo que no km 19 em diante, entramos em um trecho com muitas dunas de areia com incontáveis subidas e descidas.
Minhas polainas já não funcionavam mais como deveriam, prejudicando bastante meus pés, mas a dificuldade maior sem dúvida era o implacável calor do deserto.
Nos 6 km finais, percorremos por um trajeto com areia que afundava até a altura da canela, dificultando até mesmo o simples ato de caminhar e nos últimos 400 metros, subimos uma duna com inclinação tamanha  que exigiu o auxilio de minhas mãos para vencê-la e chegar até a meta do dia.
4° Estágio – Dia 7 de Outubro – 45 km
No briefing da organização antes desta etapa, eles foram claros em dizer que seria uma etapa duríssima, e aconselharam aos que não estavam em boas condições á desistir, afim de evitar problemas durante o dia.
Largamos em uma estrada de terra e em seguida entramos em um deserto de areia, onde podíamos enxergar algumas árvores muito distantes.
Como estava correndo sozinho, este vazio no horizonte fez com que eu começasse a sentir uma depressão repentina, sensação esta nunca vista em minha vida antes, mas continuei em frente, vagarosamente e no km 14 entramos em um novo ambiente extremamente vasto, mas desta vez o solo era composto por grossas cascas de sal.
O calor extremo e a fadiga acumulada pelos dias anteriores fez com que a depressão aumentasse, foi então que acabei parando, e estava disposto a abandonar á prova temendo o pior, pois não agüentava mais tamanho sofrimento.
Ao abrir minha mochila, peguei umas fotos que minha esposa colocou na mesma, e para minha surpresa, em uma delas tinha justamente a imagem do ultrassom de minha filha de 6 meses. Não agüentei e desabei a chorar por uns 10 minutos. A partir daí, tinha que completar a prova para ela, e nem mesmo o trecho á seguir, considerado por todos o mais difícil dos 250 km de prova, um pântano de 12 km com crostas de sal e plantações que afundavam até o joelho foram capaz de impedir meu objetivo.
5° Estágio – Dia 8 de Outubro – 78 km
Como era previsto, o dia anterior foi marcado por muitas desistências, lesões e principalmente problemas nos pés dos atletas. Ao longo do restante do dia, uma fila se formou na tenda médica para tratamento de bolhas e unhas que caíam dos pés dos atletas.
Conhecida como “A Longa Marcha”, esta etapa era muito desgastante, devido á extensa distancia aliada ao cansaço extenuante dos atletas.
Iniciamos o dia no deserto correndo sobre as incomodas crostas de sal, e após 2 horas de prova chegamos em uma estrada de terra, com muita poeira seca que se levantava conforme pisávamos, o que venho a dificultar um pouco a respiração.
Seguimos por longas estradas de terra, o que animou um pouco, afinal, podíamos ao menos correr um pouco mas no 21° km, entramos novamente no deserto de areia e todas as dificuldades voltaram novamente.
Ao chegarmos no posto de controle do km 28, isso já com quase 5 horas de prova, recebemos o único presente da organização, uma lata de Pepsi, confesso que não bebo refrigerante, mas neste caso tomei ele todo e apenas 2 goladas.  Como estava em um ritmo constante com 2 americanos e 1 mexicano, resolvi não descansar e seguir em frente com eles.
Em seguida, chegamos á um local vasto e montanhoso, onde ficamos por 3 horas subindo e descendo. Como aprecio subidas, consegui deixar os 3 atletas para trás e seguir em frente, até encontrarmos o pior trecho do dia.
Após um pouco de vento, começou uma tempestade de vento, prejudicando até mesmo o simples ato de andar, devido ás fortes rajadas e neste local tínhamos que subir uma duna extremamente alta. Para piorar as coisas avistei um americano e de longe já percebi que ele estava com problemas, mas ao alcançar  o mesmo pude comprovar de fato.  Com a cabeça caída ao lado do ombro, o atleta estava com um pouco de espuma sobre seu peito e seu ombro, sem forçar para levantar a cabeça novamente, mas independente da situação lamentável, correndo até mesmo o risco de perder a vida, ofereci ajuda e ele se negou, dizendo que estava se divertindo com a prova, coisas de ultramaratonista.
Sofri muito para subir aquela duna, em meio a fortíssimas rajadas de vento com areia, e devido ao esforço tremendo comecei a passar mal do estomago, sentindo fortes dores e diarréia, acredito que seja pelo fato de comer comida liofilizada por tantos dias.
Chegamos ao vale da lua, um local lindo, que sem duvida valia a pena todo o sofrimento e no posto de controle do km 40, apenas avisei a organização sobre o americano e segui em frente por um vasto cânion.  Como todos estavam muito distantes, continuei em frente e não conseguia ver ninguém, e pelo fato de estar em um deserto, passei a sentir a sensação de estar em um encontro com Deus.
Largamos no começo do dia ás 08:00 e por volta das 17:00 horas cheguei no posto do km 50, e neste local a organização sugeria aos atletas em ruins condições que acampasse lá com a organização para completar os outros 28 km no dia seguinte, pois á noite enfrentaríamos temperaturas beirando 0°.
Estava com problemas estomacais, e também muito fraco, por mais que tinha dificuldades em ingerir qualquer coisa no estômago, peguei água quente e fiz um risoto com frango para comer, prevendo problemas pela frente devido a falta de alimentação.
Segui vagarosamente, temendo a escuridão que chegaria em breve, e após mais 6 km no deserto, saímos e chegamos em uma extensa estrada de terra, o que fez com que me empolgasse um pouco e independente de tantas dores, consegui correr um pouquinho, até chegar no posto de controle do km 60 totalmente debilitado.
Neste ponto o sol estava se pondo, coloquei minha calça e todas as duas blusas que tinha além de gorro e luvas, pois já estava bastante frio ao chegar da escuridão.
Faltando 8 km para o fim, caminhei o restante da etapa ao lado de um amigo mexicano, e não tínhamos força sequer para conversar um com outro, seguimos curtindo o frio e a escuridão do deserto até chegarmos ao final da etapa ás 21:30 e comemorarmos á beça.
6° Estágio – Dia 10 de Outubro – 8 km
No dia anterior, alguns atletas tiveram uma folga para recuperação, enquanto outros chegaram da 5ª etapa pela manhã, já a última etapa consistia em apenas 8 km, onde chegaríamos ao final da prova na cidade de San Pedro de Atacama.
Acordei cheio de dores, mas bastante animado pelo final da jornada, pois estava desesperado para tomar um banho, comer comida de verdade e voltar para casa.
Com o intuito de conseguir melhorar minha posição no ranking geral, além de uma aposta com meu amigo mexicano, resolvi me esforçar até onde agüentasse, e independente do cansaço extenuante, além da mochila que ainda pesava uns 7 quilos fechei os 8 kms em 00:40:32.
Ao cruzar o pórtico de chegada, peguei uma pequena bandeira do Brasil, e pela primeira vez na minha vida chorei ao concluir uma prova, mas chorei aos prantos, tamanha era minha emoção.
Fechei a prova com um tempo acumulado de 43:12:29, conquistando a 32° colocação geral entre 158° atletas, sendo o 1° Latino Americano.
Independente de todo o sofrimento, além da perda de 6 quilos  nestes 7 dias, confesso que esta foi uma experiência épica em minha vida sendo uma jornada de auto-conhecimento, superação, novas amizades, exploração e principalmente um grande encontro com Deus.

Quando cheguei ao Brasil, uma pessoa me perguntou se eu faria tudo isto novamente? Não precisei pensar para responder que em 2017 irei tentar fazer A Saara Race 250km. Desta vez no deserto do Saara na Namíbia, o mais quente do planeta.